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Estupros de mulheres alemãs por tropas aliadas revelam lado oculto da vitória sobre o nazismo

Estupros de mulheres alemãs por tropas aliadas revelam lado oculto da vitória sobre o nazismo

Publicado em 23/05/2025 por lucas

Estima-se que cerca de 870 mil mulheres alemãs tenham sido vítimas de estupros cometidos por soldados das forças aliadas durante os meses finais da Segunda Guerra Mundial e o período de ocupação que se seguiu. A revelação, feita pela historiadora alemã Miriam Gebhardt, lança luz sobre um capítulo pouco discutido da história: a violência sexual sistemática praticada por vencedores da guerra.

Embora os soldados soviéticos estejam entre os principais responsáveis, estudos recentes indicam que tropas americanas, francesas e coloniais também participaram ativamente desses crimes, desmentindo a versão tradicional que restringe as acusações apenas ao Exército Vermelho.

Sobreviver escolhendo o agressor

O diário “Uma Mulher em Berlim”, escrito por uma jornalista anônima e publicado após a guerra, narra os abusos vividos em abril e maio de 1945. Ela relata uma tentativa de autopreservação comum entre as vítimas: escolher um agressor menos violento que pudesse, ao menos, protegê-las de outros estupros. A convivência forçada com esses soldados era, muitas vezes, confundida com consentimento ou “confraternização”, mas se tratava de puro instinto de sobrevivência.

Ordens ignoradas e abusos generalizados

Embora o alto comando soviético, sob Joseph Stalin, tenha oficialmente proibido o estupro de civis, as ordens eram amplamente desrespeitadas. O controle dos oficiais sobre as tropas era limitado, e poucos comandantes conseguiram conter os abusos com ameaças de execução.

Do lado ocidental, os Estados Unidos orientaram seus soldados a evitar contato íntimo com civis, mas milhares de estupros ocorreram. Em resposta à demanda sexual dos militares, prostitutas foram levadas a regiões de passagem, como Le Havre, na França. Muitas contraíram doenças sexualmente transmissíveis, o que também preocupava o comando aliado.

As punições, quando ocorriam, recaíam de forma desproporcional sobre soldados negros e coloniais, que eram mais visados por preconceito racial e por estarem longe da linha de frente — onde os crimes eram menos visíveis.

Impunidade e crianças invisíveis

Na Alemanha ocupada, a polícia local não tinha autoridade sobre as tropas estrangeiras. Mulheres que engravidaram em consequência dos estupros muitas vezes foram estigmatizadas, e seus filhos, rejeitados. Os Estados Unidos impediam que essas crianças migrassem com as mães, enquanto a França incentivava que fossem levadas ao território francês.

A presença de soldados africanos nas tropas francesas também foi alvo de racismo e se tornou símbolo de violência sexual, especialmente após a passagem do Exército francês pela Itália, em 1944, liderado pelo general Juin. O termo “marocchinate” passou a designar os estupros cometidos principalmente por soldados marroquinos.

Silêncio forçado e trauma coletivo

Após a guerra, as vítimas alemãs enfrentaram o estigma. Eram rotuladas como prostitutas ou oportunistas, frequentemente ridicularizadas com apelidos como “Veronika Dankeschön”. A vergonha e o sentimento de impotência entre os homens alemães contribuíram para o silenciamento das vítimas.

Em algumas regiões, o aborto foi temporariamente legalizado para lidar com o grande número de gestações decorrentes dos estupros. Documentos médicos da época ajudam historiadores a dimensionar o impacto desses crimes.

As marcas deixadas por esses episódios se perpetuaram por gerações. Segundo Miriam Gebhardt, o medo transmitido às filhas e a ansiedade social diante do tema ainda são perceptíveis, como ocorreu durante a crise migratória europeia em 2015, quando a Alemanha acolheu refugiados do Oriente Médio e viu emergirem temores sociais relacionados a estupros — com forte carga histórica.

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“A guerra não apagará tudo”, repetiam as testemunhas da época. Hoje, cabe à pesquisa histórica recuperar e dar voz a essas memórias silenciadas.


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